domingo, 20 de dezembro de 2015

Reencontro de Natal - Irmão X / Francisco Cândido Xavier


A senhora M. C., funcionária dos correios de grande metrópole, atendia à seleção da correspondência recolhida pela manhã, prelibando a festa marcada para a noite. A véspera de natal lhe surgia excitante. Encontro alegre de amigos....

Separada do marido, depois de dois anos promovia o desquite. Com ele, deixara o filho único e os ideais mais lindos de mulher. Escolhera uma profissão, vencendo as dificuldades por si mesma.

Agia com as mãos e pensava: "Hoje, renovarei o caminho. Um sonho diferente. Afinal, estou livre e posso aceitar obrigações para com outro homem. Partirei, de hoje em diante, para a formação de um novo lar. Já disse tudo a ele e ele me compreendeu. É um rapaz desquitado, sofrido quanto eu mesma."

Enquanto isso, os dedos tateavam cartas e jornais. Quase mecanicamente, revisava nomes, carimbos, anotações. Escolhia material aqui e ali.

Em dado momento, um papel dobrado, sem envelope, lhe caiu aos pés.

Apanhou-o. Uma folha simples, com um endereço em letras desajeitadas:

"Para JESUS - NO CÉU".

A funcionária examinou o pequeno e estranho documento e, porque estivesse claramente aberto, mergulhou na leitura, de modo a inteirar-se de como devia agir, e devorou o conteúdo, palavra por palavra.

Querido Jesus.

Soube que o Senhor é quem distribui presentes para todos no Natal. Muita gente acredita no Papai Noel, mas tia Belinda me disse que Papai Noel é o Senhor mesmo. Vou colocar esta carta na caixa do correio, pedindo uma coisa. Vou explicar. Não queria que o Senhor me desse brinquedos, nem mesmo o automóvel que vi na loja. Queria que o senhor me trouxesse minha mamãe. O Senhor sabe que ela nos deixou porque sofria demais. De noite, quando meu pai chegava da rua, fechava a porta com força e xingava muito, porque havia tomado bebidas fortes. Dava pontapés nas cadeiras e depois avançava para ela, querendo bater e, às vezes, até batia. Mamãe chorava, abraçada comigo, mas, uma noite, ela saiu e não voltou mais. Fiquei muito triste e papai também. Ele é bom para mim, mas quando bebe diz que eu não presto, que vai me levar para um asilo ou para o hospital. Estou doente, querido Jesus, mas estou na escola. Quando é de noite, sinto frio e tenho muita tosse. Tia Belinda e Dona Silvana cuidam de mim, mas não é mesma coisa que minha mamãe. O Senhor poderá encontrar mamãe e trazê-la. Se o Senhor falar com ela que estou doente, sem dormir de noite e tomando remédios, sei que ela virá. Querido Jesus, não precisa mandar brinquedos nem bombons como no ano passado. Traga mamãe para mim.

A senhora M. C. leu a assinatura engasgada de emoção. Chegara-lhe as mãos a missiva do filhinho de oito anos.

Recompunha o rosto, lavado em pranto, quando foi chamada ao telefone.

Atendendo, disse apenas ao interlocutor que conversava no outro lado do fio:

- Agradeço, mas sinto muito. Não me espere mais. Tenho novos compromissos.

E, à noite, a senhora M.C. demandou o antigo lar. Recebida alegremente pelas duas senhoras que lhe chefiavam agora a casa, passou na sala de visitas pelo esposo que, embora embriagado, a cumprimentou surpreendido. Rapidamente, alcançou o quarto do filhinho, com a ansiedade de quem reencontrara um tesouro perdido, e o pequeno, ao vê-la, ergueu-se do leito, exclamando, feliz:

- Ah! Mamãe!... Mamãe!... Então JESUS recebeu a minha carta e trouxe a senhora?!.....

E ela somente respondeu, com o peito rebentando em lágrimas de ventura:

- Ah! meu filho!.... meu filho!....

Irmão X

Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier

Reformador Dezembro de 1969)

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